Preocupadas
com a própria saúde, com o meio ambiente e com as condições em
que animais como vacas, galinhas e porcos são criados, muitas
pessoas se tornam vegetarianas ou vegans/veganos.Só
para esclarecer, vegetarianos
excluem carnes de suas dietas, mas podem ou não incluir ovos e/ou
leite e seus derivados. Já os vegans não consomem absolutamente
nada que seja de origem animal.
Nada
mais natural que o adepto desse estilo de vida queira estendê-lo ao
seu melhor amigo! É o seu caso? Confira o guia abaixo.
É
possível oferecer uma dieta vegetariana caseira para cães?
Sim,
isso é possível. De uma forma geral, o organismo do cão, de modo
semelhante ao que ocorre com o ser humano, pode se adaptar para obter
nutrientes essenciais a partir de uma variedade de alimentos. Desde
que cuidadosamente formulada e acompanhada por um médico-veterinário,
a dieta caseira vegetariana não deverá trazer prejuízos à saúde
do cão.
“Devo
optar por dieta caseira ou outro tipo de alimentação vegetariana?”
Dietas caseiras oferecem inúmeras vantagens:
- frescor e qualidade dos ingredientes;
- reduzido teor de aditivos;
- maior teor de água;
- alta digestibilidade;
- baixo risco de torção gástrica;
- alta palatabilidade;
Se
você dispõe de tempo para fazer compras periódicas de alimentos e
suplementos e não se importa de cozinhar ou preparar as refeições
de seu cão, ótimo. Você vai tirar de letra a alimentação
caseira.
Na
verdade, não é nenhum bicho de sete cabeças preparar as receitas
vegetarianas. Mas é preciso ter comprometimento e seguir as
orientações. Como se trata de uma dieta restritiva, ou seja, com
menos grupos alimentares, deficiências ou excessos nutricionais
podem ocorrer mais facilmente. Para evitar que isso aconteça você
precisará variar bastante os ingredientes e acrescentar determinados
suplementos à dieta.
Se
você acha que não dará conta, opte por outro tipo de dieta
vegetariana. É indiscutivelmente preferível oferecer uma dieta
comercial, que supre os requerimentos nutricionais, a oferecer
refeições vegetarianas caseiras desbalanceadas.
E que tal uma dieta caseira vegan para cães (sem alimento algum de origem animal)?
Dietas vegans para pets existem mas são controversas. Cães e gatos não são herbívoros e uma alimentação ainda mais restritiva que a vegetariana pode trazer problemas. É o que relata o médico-veterinário norte-americano Martin Goldstein em seu ótimo livro The Nature of Animal Healing. (Ele atendeu uma Pastora Alemã, de nome Vegan – criada à base de vegetais desde filhote – dona de uma crescente e incontrolável agressividade que morreu relativamente jovem de câncer mamário.)
Abaixo, o comentário feito pelo Dr. Richard Pitcairn PhD, veterinário vegetariano com experiência de 40 anos em clínica de cães e gatos e autor do livro Dr. Pitcairn’s Complete Guide to Natural Health for Dogs & Cats:
“Observo que na maioria das vezes os problemas tendem a aparecer quando os proprietários excluem da dieta todo e qualquer alimento de origem animal, incluindo ovos, leite e seus derivados. As pessoas podem viver bem com uma dieta vegan cuidadosamente elaborada, mas eu não a recomendaria para cães – e muito menos para os gatos.”
Mas se faltam nutrientes, não podemos simplesmente adicioná-los à dieta na forma de suplementos?
Sim,
e isso é feito. O problema é que os nutrientes sintéticos ou
industrializados simplesmente não têm o mesmo valor biológico dos
mesmos nutrientes in natura, no alimento. Leia mais sobre isso aqui.
Ainda não conhecemos a fundo os requerimentos de micronutrientes dos
pets. Tampouco identificamos todas as propriedades presentes nos
alimentos e suas possíveis interações.
Todos os anos novos elementos nutricionais são descobertos ou re-descobertos. Negar todo e qualquer alimento de origem animal aos cães pode levá-los a uma carência nutricional desconhecida. E ainda existe a questão da palatabilidade (sabor). Pode ser bastante difícil acostumar cães e gatos – principalmente adultos – a aceitar as dietas vegans caseiras.
Se você é vegan, considere a possibilidade de oferecer ao seu cão uma alimentação caseira vegetariana. É uma opção considerada mais segura por ser menos restritiva que a dieta vegan.
É
preciso adicionar taurina à dieta vegetariana
Quando se pensa em taurina, se pensa em gatos. Para os felinos a ingestão desse aminoácido é de suma importância para a saúde cardiovascular e dos olhos. Isso ocorre porque o fígado dos gatos não consegue produzir taurina a partir dos aminoácidos cistina e metionina e da vitamina B6, como faz o fígado do cão. O felino precisa ingerir a taurina já pronta. E taurina desse jeito só existe em tecidos de animais; em especial no coração, nos olhos e na musculatura, preferencialmente crus.
Entretanto,
estudos nutricionais recentes revelaram que a taurina presente na
carne também pode ser necessária para a saúde cardiovascular dos
cães, em especial dos de porte grande e gigante.
Em
2003, os pesquisadores da universidade norte-americana UC Davis
publicaram informações sobre pesquisas feitas com cães de raças
grandes que apresentavam uma doença chamada cardiomiopatia
dilatada que
leva à insuficiência cardíaca. Foi encontrada uma associação
direta entre essa afecção e a deficiência de taurina na dieta.
Cadelas
prenhes e lactantes podem comer a dieta vegetariana? E os filhotes?
Ainda não dispomos de um cardápio vegetariano para filhotes, fêmeas prenhes e lactantes. Masneste endereço você encontra (em inglês) um cardápio para filhotes aprovado pelos membros da mais antiga organização vegetariana do mundo, The Vegetarian Society of the United Kingdom(A Sociedade Vegetariana do Reino Unido).
E
para os cães de trabalho e atletas? Estes podem obter mais energia
por meio de aumento das porções (e da freqüência com que são
servidas); do uso de vegetais ricos em carboidratos como batata,
mandioquinha, inhame, e de frutas como a banana (de preferência com
a casca); e/ou da inclusão regular de um mingau de cereais, etc.
Adaptação
do cão adulto à nova dieta
Se você oferece outro tipo de dieta, vá acrescentando aos poucos os alimentos indicados nas receitas vegetarianas até que, passados alguns dias, você esteja oferecendo 100% do novo cardápio. Isso fará com que os sentidos e o trato digestório do cão se acostumem gradativamente com os novos cheiros, sabores e ingredientes. Há pessoas, entretanto, que mudam a dieta de seus cães da noite para o dia e não relatam problemas.
Variar
é preciso; além de fornecer uma ampla gama de nutrientes, a
variação evita que o cão enjoe da comida. Descubra quais são os
alimentos vegetarianos que seu cão mas gosta e use-os com maior
freqüência. Valorize a comida, fazendo festa antes e depois de cada
refeição. Não ofereça ingredientes “passados”; cheiros,
sabores e texturas ruins podem fazer os cães recusarem a comida.
Vale
acrescentar “molhos” ou pedacinhos de coisas gostosas e
nutritivas às refeições, como levedura de cerveja (salpicada feito
queijo ralado), proteína de soja texturizada, molho de soja tamari –
esses três itens são ricos em vitaminas do complexo B – ou
pedacinhos de maçã, de queijo branco, etc.
Como
saber se o cão está saudável comendo a nova dieta
Ao desconfiar de qualquer alteração, leve o animal ao médico-veterinário. Diarréias e vômitos persistentes, coceiras e afecções de pele podem ser sinal de alergia alimentar. Com orientação do médico-veterinário, tente identificar e excluir da dieta os alimentos suspeitos. Se estiver tudo bem com o cão, ótimo. Mas não deixe de levá-lo periodicamente ao veterinário.
Preparo
dos vegetais
Há vegetais que podem ser oferecidos crus, como a beterraba, a cenoura, o pimentão, o brócolis, a couve-flor, a ervilha torta e a vagem. Mas devem ser liquidificados com um pouquinho de água para facilitar a digestão e a absorção dos nutrientes. Já tubérculos como batatas, batata doce, mandioquinha e inhame devem sempre ser oferecidos cozidos. Fique de olho no relógio. Cozinhar legumes por mais de 15 minutos destrói fibras e importantes micronutrientes.
Se
possível, ofereça tanto legumes crus quanto cozidos. Vegetais crus
são mais nutritivos e contêm bastante fibra, ao passo que os
cozidos são mais gostosos, calóricos e digestíveis.
Fontes
vegetarianas de proteína, gorduras, carboidratos, vitaminas e
minerais Proteína:
As
melhores fontes são queijos, ovos, grãos de soja, farinha de soja,
tofu e proteína de soja. Outras fontes incluem leguminosas
(lentilhas, feijões, quinua), cereais integrais e gérmen de trigo,
sementes de girassol, gergelim, côco, castanha e nozes – com
exceção das macadâmias.Observação: sempre
que for possível combine duas ou mais fontes protéicas, já que os
alimentos apresentam diferentes teores e tipos de aminoácidos.
Gordura
e óleos: manteiga,
margarinas, queijos, ovos, azeitonas, azeite de oliva, gérmen de
trigo, nozes, óleo de girassol, óleo de milho, óleo de linhaça,
óleo de soja, óleo de canola, etc.
Carboidratos: cereais
e seus derivados (farinhas, pães), bananas, castanha de caju,
leguminosas, pêras, frutas secas (evitar passas), batata,
mandioquinha.
Fibras: legumes,
frutas, cereais integrais, pães e leguminosas (feijão, quinua,
lentilha).
Vitamina
A: na
forma de vitamina A – margarina, manteiga, leite, queijo e ovos. Na
forma de precursores (carotenos) – cenouras e vegetais
verdes.
Observação:
Para
os cães, o caroteno tem metade do valor nutricional da vitamina A.
Vitamina
D: na
forma de vitamina D – margarina, manteiga, ovos e leite. Na forma
de seu precursor, que é convertido em vitamina D pela ação dos
raios solares na pele do animal: vegetais de folhas escuras, gérmen
de cereais e levedura de cerveja.
Vitamina
E: gérmen
de cereais (especialmente o óleo de gérmen de trigo e o óleo de
girassol), vegetais de folhas verdes (repolho, espinafre, alface).
Vitamina
K: vegetais
de folhas escuras.
Vitaminas
do complexo B (com exceção da B12): levedura,
cereais integrais, gérmen de cereais, bran, ovos, legumes diversos,
nozes. Observação: trata-se
de um complexo facilmente destruído por ação do calor (cozimento).
Vitamina
B12: leite
de soja fortificado, queijo, algumas proteínas vegetais texturizadas
(verifique o rótulo), leite.
Vitamina
C: brotos
frescos, couve, couve-galega, couve-flor, brócolis, repolho, frutas
cítricas, morangos, tomates, pimentões verdes.
Probiótico: Iogurte,
kefir e coalhada
Observações: a
vitamina C não é um requerimento essencial para os cães, uma vez
que o organismo deles – diferentemente do nosso – consegue
produzir essa vitamina. No entanto, alguns pesquisadores sugerem que
a síntese (“fabricação”) de vitamina C dos cães alimentados
com dietas de baixa proteína pode não ser tão eficiente. E como os
cães de vida urbana estão sujeitos à poluição e ao estresse,
oferecer uma fonte extra de vitamina C, um poderoso antioxidante,
nunca é demais.
Minerais
Cálcio: boas
fontes incluem o queijo, o iogurte e o gergelim. Mas o cálcio também
está presente em menor quantidade nas amêndoas, figos secos,
pepino, feijão, limão, leite, tangerina, alho-poró, couve, alface,
couve-flor, almeirão, aipo, amendoim.
Alimentos
com bom equilíbrio cálcio: fósforo –
queijo, iogurte, feijão, ervilhas maduras, lentilhas, ovos, couve,
couve-de-Bruxelas, figos secos, leite, couve-flor, salsão, alface,
banana, laranja, amendoim, amêndoas e avelã.
Alimentos
com pouco cálcio em relação ao fósforo –
cereais e seus derivados, pães e farinha.
Observação: Esses
alimentos precisam ser oferecidos juntamente com alimentos ricos em
cálcio de modo a prevenir deficiências desse mineral. O ácido
fítico presente nos cereais também reduz a absorção de cálcio.
Deixar os grãos “de molho” em uma cuba com água durante a noite
e acrescentar umas gotinhas de limão ativa enzimas que quebram o
ácido fítico. A vitamina D também é um fator essencial para a
absorção de cálcio.
Ferro: painço,
salsão, cream cheese (requeijão), tangerina, espinafre, frutas
variadas, legumes em geral, nozes, cereais integrais.
Iodo: algas,
ovos, fucus, centeio e trigo integral e alface.
Outros
minerais: desde
que a dieta contenha uma ampla variedade de vegetais, cereais,
frutas, nozes, leite, queijos e ovos, minerais importantes não
ficarão de fora.
Alimentos
que devem ser evitados: macadâmias,
passas, uvas, cebola, chocolate (ao leite e amargo), pimenta e
alimentos apimentados.
Observações
importantes antes de começar Ferro e suplemento multi-vitamínico e
mineral
Alguns veterinários naturalistas recomendam suplementar as dietas vegetarianas dos cães com complexos multi-viamínicos-minerais de modo a evitar deficiências. Dietas sem carne são suspeitas de levar os cães a uma deficiência de ferro. Isso porque o ferro de origem vegetal não é absorvido pelo organismo canino com a mesma facilidade que o ferro presente nas carnes. Algumas maneiras de driblar esse risco:
- Oferta regular painço cozido – grão muito rico em ferro;
- Prefira ovos caipiras (orgânicos). Quando produzido de forma natural o ovo é outra boa fonte desse mineral;
- Oferta diária de ferro ou complexo vitamínico-mineral para cães.
- O requerimento mínimo diário de ferro, de acordo com as diretrizes do National Research Council para um para um cão com 16,5 quilos é de 7,5 miligramas por dia. Se optar pelo complexo vitamínico-mineral, consulte o rótulo ou a bula para descobrir a dosagem diária que seu cão deve receber.
Referências
bibliográficas (e sugestões para consulta)
Sites
Veggie Pets
Vegetarian Food
VegPets
Sociedade Vegetariana Brasileira
The Vegetarian Society of the United Kingdom
National Research Council
Veggie Pets
Vegetarian Food
VegPets
Sociedade Vegetariana Brasileira
The Vegetarian Society of the United Kingdom
National Research Council
Livros
Canine Nutrition – What Every Owner, Breeder and Trainer Should Know. D.V.M. Lowell Ackerman. 1999
Canine Nutrition – What Every Owner, Breeder and Trainer Should Know. D.V.M. Lowell Ackerman. 1999
Dr.
Pitcairn’s Complete Guide of Natural Health for Dogs & Cats.
D.V.M., PhD, Richard Pitcairn. 2005
Natural
Health Bible for Dogs and Cats.
D.V.M. Shawn Messonnier – 2001
The
Nature of Animal Healing.
D.V.M. Martin Goldstein – 1999
Food
Pets Die For.
Ann Martin – 2008
Publicado:
por Sylvia Angélico
AMO PATINHAS